15 de maio de 2012

Depois de um bom tempo dizendo que eu era a mulher da vida dele, um belo dia eu recebo um e-mail dizendo: "olha, não dá mais". Tá certo que a gente tava quase se matando e que o namoro já tinha acabado mesmo, mas não se termina nenhuma história de amor (e eu ainda o amava muito) com um e-mail, não é mesmo? Liguei pra tentar conversar e terminar tudo decentemente e ele respondeu:"mas agora eu to comendo um lanche com amigos". Enfim, fiquei pra morrer algumas semanas até que decidi que precisava ser uma mulher melhor para ele. Quem sabe eu ficando mais bonita, mais equilibrada ou mais inteligente, ele não volta pra mim?Foi assim que me matriculei simultaneamente numa academia de ginástica, num centro budista e em um curso de cinema. Nos meses que se seguiram eu me tornei um dos seres mais malhados, calmos, espiritualizados e cinéfilos do planeta. E sabe o que aconteceu? Nada, absolutamente nada, ele continuou não lembrando que eu existia. Aí achei que isso não podia ficar assim, de jeito nenhum, eu precisava ser ainda melhor pra ele, sim, ele tinha que voltar pra mim de qualquer jeito. 
Decidi ser uma mulher mais feliz, afinal, quando você é feliz com você mesma, você não põe toda a sua felicidade no outro e tudo fica mais leve. Pra isso, larguei de vez a propaganda, que eu não suportava mais, e resolvi me empenhar na carreira de escritora, participei de vários livros, terminei meu próprio livro, ganhei novas colunas em revistas,quintupliquei o número de leitores do meu site e nada aconteceu. Mas eu sou taurina com ascendente em áries, lua em gêmeos e filha única! Eu não desisto fácil assim de um amor, e então resolvi que eu tinha que ser uma super ultra mulher para ele, só assim ele voltaria pra mim.Foi então que passei 35 dias na Europa, exclusivamente em minha companhia, conhecendo lugares geniais, controlando meu pânico em estar sozinha e longe de casa, me tornando mais culta e vivida.Voltei de viagem e tchân, tchân, tchân, tchân: nem sinal de vida. Comecei um documentário com um grande amigo, aprendi a fazer strip,cortei meu cabelo 145 vezes, aumentei a terapia, li mais uns 30 livros, ajudei os pobres, rezei pra Santo Antonio umas 1.000 vezes, torrei no sol, fiz milhares de cursos de roteiro, astrologia e história, aprendi a nadar, me apaixonei por praia, comprei todas as roupas mais lindas de Paris. Como última cartada para ser a melhor mulher do planeta, eu resolvi ir morar sozinha. Aluguei um apartamento charmoso, decorei tudo brilhantemente, chamei amigos para a inauguração, servi bom vinho e comidinhas feitas, claro, por mim, que também finalmente aprendi a cozinhar. Resultado disso tudo: silêncio absoluto. O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir todos os dias querendo ser mais feliz para ele, mais bonita para ele, mais mulher para ele. Até que algo sensacional aconteceu. Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher, que eu acabei me tornando mulher demais para ele. Ele quem mesmo?
(Tati Bernardi)

“Eu me apego, guardo, empilho. Da mesma forma que junto cartas antigas, bilhetes, fotos, recordações eu carrego as pessoas comigo. Quem eu amei não sai de mim. Não me desfaço dos outros como quem decide jogar tudo fora e fazer nova decoração.”
(Clarissa Corrêa)

Quem transforma as mulheres em galinhas são os homens. A culpa é dos próprios homens! Tudo bem, queremos meninas legais, sexys, taradas, bonitas, inteligentes e boazinhas; lógico que possuem um defeito aqui, outro ali, um errinho aqui e acolá, mas enfim, ótimas! Muito fácil falar, pois quando aparece uma assim, de bandeja, a primeira coisa que a gente pensa é: oba me dei bem! Ficamos com elas uma vez, duas. Gostamos delas. Começamos a pensar que essa é a mulher que as nossas mães gostariam de ter como noras; se sair um namoro, vai ser uma relação estável. Você vai buscá-la no colégio, comerão no estacionamento do Mc’Donalds, vocês vão ao cinema, num barzinho, vai ter sexo toda a semana – tudo básico, até virar uma rotina sem graça. Você vai olhar os caras bem vestidos e bem-humorados indo pra noite arrasar com a mulherada e vai morrer de inveja (sem saber que eles estão morrendo de inveja do seu relacionamento, da sua namorada superiormente interessante comparada as meninas da night). Vai sentir falta daqueles perfumes deliciosos que parece que as nossas namoradas nunca usam, vai sentir falta do decote daquelas loiras peitudas que passam logo abaixo do seu nariz, vai sentir falta de dar aquelas cantadas infalíveis na noite, falta de dar umas olhadas pra uma gata, ou de dar aquela dançadinha mais provocativa na pista. Você pensa: acho que não estou pronto pra isso, pra me enclausurar pro resto da vida nesse namoro. E a boa menina se transforma numa “mala”, e aos poucos vai surgindo um nojo dela, uma aversão. Quando você vê o nome dela no celular, não dá vontade de atender. Você pensa: não estou mais afim, não gosto mais dela, já era. Daí, aquela promessa de vida estável vai por “água-a-baixo”; se a menina não se dá conta, a gente começa a ser agressivo, mal-humorado, sem educação e grosso, muito grosso. E a pobre menina pensa: o que eu fiz? Não sou bonita, legal, inteligente, companheira, boa o suficiente? Será que há outra? (geralmente há, porque não nos cansamos de boas conquistas, porque também achamos que outras não vão ficar no nosso pé, ou que serão as outras as noras que sua mãe pediu a Deus. Muito nos enganamos nesta vida…). Será que dá para confiar? Coitada, ela não fez nada, e a culpa é nossa mesmo (temos medo de enfrentar as dificuldades e as privações do mundo de solteiro. Temos medo de nos prendermos de verdade àquela menina boazinha que temos certeza que seria capaz de suportar qualquer coisa para nos fazer bem). Aí, voltamos pra nossa vidinha, que a gente odiava meses atrás. Não vemos a hora de sair e arrasar na noite. Lembra dos decotes? Grande ilusão. Você chega em casa depois da balada, bêbado, fedendo a cigarro, depois de fumar, beber e fazer de tudo! O ouvido está zunindo, você está sozinho e fica tentando descobrir porque você não está satisfeito (porque mesmo estando com outra no lugar da boazinha, sempre há uma questão: será que troquei o certo pelo duvidoso? Como estará a menina boazinha sem que eu esteja por perto pra tomar conta? Coisas realmente verdadeiras dentro desta felicidade momentânea que vivemos agora). Ah! E pensa: de repente foi porque a menina da night, linda, gostosa, misteriosa, que ficou contigo no começo pareceu quente, você passou a mão em tudo, rolou algo mais, mas você no interior ainda está insatisfeito sem saber direito qual a razão (bom, você diz: vai ver eu não estava muito inspirado, a cerveja não era bem gelada, a galera não estava muito na pilha, foi uma situação ocasional; sei lá, mas tenta arranjar um motivo para a tal insatisfação interior). Ela não te completa e uma parte fica vaga… não tem sentimento! Você não conhecia. Ou às vezes você até conhecia: namorou, voltou com ela! Mas não tem mais graça. Ela disse que ia ao banheiro e não voltou mais, trocou seu nome três vezes, ficou conversando com aquele amigo dela um tempão, você descobre sua fama, e que aquele “relacionamento” não te leva a nada. Ela gosta de você, mais já não faz sentido. Frustração! Daí, por mais que você não queira, você pensa, de algum modo, na sua menina boazinha que você deixou pra trás (mas não admitindo muito, querendo fugir do tal pensamento, achando que é apenas um momento, que vai logo passar). Aí, a gente volta pra nossa vidinha, que a gente odiava até
semanas atrás (os amigos são os mais novos possíveis, a gente tenta se afastar da monótona vida que estávamos levando antes. E essa nova “mina”, e essa nova galera trata a gente como se fossemos maiorais, e a gente faz tudo pra estar perto dessa nova vida tentando desesperadamente apagar a vida anterior. Aliás, neste ponto, a gente tenta realmente apagar tudo que nos prende à menina boazinha, até falar com ela é uma coisa intolerável. “Primeiro passo do arrependimento”). A gente não vê a hora de sair, esquecer e arrasar na noite com a galera. Enquanto isso, a boa menina, chateada, lesada, custa a entender o que ela fez pra ter te afastado dela… Daí, essa dúvida vira angústia, ressentimento, que vira raiva. “O que é que eu tenho de errado?”, ela pergunta para si, sendo que homem não falta pra ela. Aí, a menina manda tudo à puta que pariu: não quer mais saber de nada, só de aproveitar a vida, beijando muito cara, e esquecer “ele”. Resolve não se envolver mais, pra não sair lesada, chutada, humilhada ou chateada. Muito bem, acabamos de criar uma monstra, uma terrorista, uma mulher-bomba que fará você implorar por sua simples vidinha. Um predador! Um demônio usurpador de pobres almas machistas que acreditam ser espertos (por mais inteligente que ela seja, é inevitável: mecanismo de defesa. Ninguém vive decepções amorosas mais de uma vez na vida). O tempo passa e a gente continua na mesma. Volta a reclamar da vida e das mulheres. Elas só querem as coisas com homens cachorros e não estão nem aí pra nós. Atenção: elas são assim por culpa nossa. A mulher vulcão da festa de hoje era a boa menina de outro homem ontem… e assim sucessivamente. Provavelmente, essa nossa ex-boa menina deve estar enlouquecendo a cabeça de outro homem por aí; e eu a perdi para sempre. Ela virou uma mulher enlouquecedora e eu a encontrei na balada outro dia: ela estava com um super decote, um perfume delicioso, sorrindo e arrasando com vários caras e ela nem olhou para mim.

“Eu sofro de recaídas. Uma hora eu digo que superei, que a sua presença não me afeta mais. Chego a passar um dia inteirinho sem pensar em você. Me envolvo com outras pessoas. Faço da estrada minha melhor amiga e da bebida minha companheira. Até ai, tudo bem. Mas outra hora, vem a nostalgia. A falta, a carência. Vem você e o seu sorriso. É nessa hora que eu confesso que sou fraco. É nesse momento que me tranco no quarto, abraço o travesseiro e deixo as minhas lágrimas falarem o que estou sentindo. Fico sentimental. Quer texto que fale de um amor e qualquer música melancólica me desarmam. Como disse, sofro de recaídas.”

“A gente podia ter tido mais calma. Podíamos ter ido mais devagar. Deveríamos ter segurado a onda e medido as palavras. A gente tinha que ter tentado controlar a raiva para não magoar o outro. Nossos passos tinham que ter sido exatos, nossos tropeços eram pra significar NADA perto daquilo que estava começando a ser algo especial e único. Erramos feio. Falamos demais e agimos de menos. Magoamos demais e amamos de menos. Gritamos demais e fomos sensíveis de menos. Lutamos demais e nos entregamos de menos. Relutamos e tivemos medo demais e nos apaixonamos de menos. Erramos feio. Tudo que não era pra ser feito fizemos em dobro. E o que era pra ser…bem, ficamos no saldo devedor, no vermelho. A gente podia ter tido uma história linda. Mágica, pura, sem cobranças, cheia de respeito, livre, saudável e deliciosa como o barulho da chuva. Era pra ter sido amor.”
(Clarissa Corrêa)

“Eu sou feliz, cara. Eu sou feliz demais. Mas eu sou infeliz demais, quando penso em você. Quando penso no que poderia ser, no que poderia ter sido. Eu sei que não dá. Eu nem quero que dê. Não quero mais. Mas não sei o que fazer com esse nó. Vai passar né? Eu sei. Com o tempo eu não vou mais olhar sua foto, nem sofrer, nem pensar o quanto é infeliz tudo o que aconteceu. Tomara que passe logo.”
(Tati Bernardi)