9 de janeiro de 2011

O que faço com o aparelho antigo, aquele lotado de torpedos que nunca apaguei, em que você dizia que nunca havia amado ninguém como amava a mim, e nossas brincadeiras, e os "bom dia, linda" e os "boa noite, amor" e todos os nossos segredos. Faço o quê com o aparelho antigo, com o aparelho que registrou todos os nossos telefonemas intermináveis, dou o mesmo fim que dei à sua escova de dente?
Não sei se devo registrar seu número no meu novo celular, se coloco na agenda seu nome, não sei se alguma vez ele vai tocar com você chamando no outro lado da linha, acho que nunca mais e isso me apavora, o "nunca mais" que me persegue desde o momento em que acordo e que me dá medo e me faz voltar a ser criança, medo de nunca mais viver o que vivi, sentir o que senti, medo de não conseguir aguentar viver sem você e o medo maior de todos, que é o de enlouquecer, porque o que me resta de sanidade me avisa: estou pirando, eu sei. (...)
A primeira pessoa que telefonou para meu novo celular não foi você, e a segunda também não. 

(Fora de mim- Martha Medeiros)

Nenhum comentário:

Postar um comentário